Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o surto de coronavírus como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). A medida buscava gerar uma resposta coordenada e imediata para interromper a propagação do vírus. O que os pesquisadores não esperavam era que o vírus se espalhasse rapidamente, gerando surtos em diversos países e regiões do mundo.
Em 11 de março do mesmo ano, é decretada a pandemia de Covid-19, uma doença infecciosa causada pelo coronavírus SARS-CoV-2. Por ser transmitida pelo ar a partir da tosse ou espirro de uma pessoa contaminada, aos poucos, o mundo todo entrou em isolamento.
No mês de março de 2020, os hospitais de Santa Maria alteram o funcionamento, suspendendo visitas e diminuindo a capacidade máxima de lotação dos quartos. Neste mesmo mês, escolas suspenderam as aulas e, gradativamente, conforme os decretos, o comércio e demais atividades econômicas foram fechando as portas. Em maio daquele ano, o município registrou os primeiros óbitos de moradores em decorrência da doença.
A dimensão da pandemia no município pode ser compreendida também a partir dos números. Entre 2020 e 13 de março de 2023, foram contabilizados mais de 89 mil casos confirmados. No mesmo período, foram registradas 3.879 internações hospitalares e 1.007 óbitos em decorrência da doença.
Neste processo, a testagem para Covid-19 continua sendo essencial para confirmar os diagnósticos e orientar a população, apresentando sintomas ou não. De acordo com a Secretaria de Saúde de Santa Maria, apenas na rede municipal, 184.361 testes foram realizados até o momento, entre testagem rápida de antígeno e RT-PCR, considerado o padrão ouro na identificação do vírus e confirmação da Covid-19.
O cenário mudou tantas vezes que, diante de qualquer indício de estabilidade, voltam os questionamentos se a pandemia já acabou.Para a OMS, a resposta ainda é não.
Em 19 de janeiro de 2021, as primeiras doses de vacinas contra a Covid-19 trouxeram esperança aos santa-marienses e, nos últimos dois anos, Santa Maria tem retomado as atividades presenciais.
Testagem de Covid na rede municipal
Número de testes rápidos de antígeno feitos
2020 – 2.826
2021 – 40.890
2022 – 73.814
2023* – 4.621
Total – 122.151 testes
Número de testes RT-PCR realizados
2020 – 18.131
2021 – 25.793
2022 – 17.731
2023* – 555
Total – 62.210 testes
Em 2021, Santa Maria registrou o maior número de mortes por Covid
Há dois anos, hospitais ficaram superlotados de pacientes. As equipes de saúde ficaram sobrecarregadas com a alta de demanda. Foto: Renan Mattos (Diário/ Arquivo)
Em 2021, 661 pessoas perderam a vida em Santa Maria devido à Covid. Foi o ano mais letal entre os três. A secretária adjunta Ana Paula Seerig falou sobre os desafios enfrentados pela Secretaria de Saúde para enfrentar a pandemia:
– Tivemos que saber lidar com todas as situações e todas as fases da pandemia. No início, havia um total desconhecimento. No planejamento, de um modo geral, sempre tentamos pensar à frente das situações, até para prever o que iríamos precisar. Coisa que não ocorreu no início. Tivemos que ser muito autodidatas, porque não tínhamos um norte para seguir.
A demanda por leitos hospitalares para os pacientes com casos graves da doença também é analisada por Ana Paula:
– Tivemos uma retaguarda privilegiada, tanto de leitos clínicos quanto em UTI, em termos de Rio Grande do Sul e, até mesmo, no país, porque tivemos, sobretudo na rede pública, um número de leitos que a maioria dos municípios não tinham.
Durante os três anos de pandemia, o município realizou 3.879 internações hospitalares em decorrência da Covid-19, sendo mais de 2,5 mil apenas em 2021. Desde o ano passado, os índices vêm apresentando queda em Santa Maria, permitindo a desativação de alas específicas em hospitais, além da retomada de demandas e procedimentos que ficaram em segundo plano.
– O que percebemos agora é que, de fato, diminuímos muito o número de óbitos. E, atualmente, eles ocorrem em pessoas que têm algumas comorbidades. Ou seja, somente por Covid-19, como ocorreu no período mais crítico, não se verifica mais. São pessoas que já tem uma série de comorbidade e que a Covid-19 torna-se um agravante para o estado de saúde já debilitado. O que fez a diferença no curso do andamento da pandemia foi o processo de vacinação – conclui Ana Paula.
Casos confirmados
2020 – 14.263
2021 – 35.049
2022 – 39.227
2023* – 1.330
Total – 89.869
Internações hospitalares
2020 – 851
2021 – 2.593
2022 – 408
2023* – 27
Total – 3.879
Óbitos
2020 – 176
2021 – 661
2022 – 154
2023* – 16
Total – 1.007
*Atualizado em 13 de março de 2023 Fonte: Secretaria Municipal de Saúde
A pandemia ainda não acabou, segundo a OMS
População voltou à rotina, sem o uso de máscaras, que marcou os primeiros anos da pandemia. Foto: Eduardo Ramos (Diário)
Em janeiro deste ano, a OMS reavaliou o cenário da Covid-19, optando por manter a classificação do surto de coronavírus como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. À nível local, a avaliação é a mesma.
– Hoje em dia, temos uma situação que não indica o fim da pandemia. Temos dados que não são normais, porque ainda temos, por exemplo, óbitos por doenças respiratórias, como é o caso da Covid. Por isso que ainda estamos em uma pandemia – argumenta a secretária adjunta de Saúde, Ana Paula Seerig.
Atualmente, Santa Maria tem mais de 200 casos ativos da doença. Além da vacinação, medidas não farmacológicas, como o uso de máscara e álcool gel, ainda são indicadas para diminuir as chances de contaminação pelo vírus, especialmente no caso de pessoas que apresentem sintomas gripais ou semelhantes.
De acordo com o Painel Estadual de Monitoramento da Imunização Covid-19, apenas 59,5% da população santa-mariense está com o esquema vacinal completo.
Especialistas alertam que a vacinação continua sendo a melhor solução para reduzir os sintomas mais graves da doença. Em 14 de fevereiro deste ano, o município iniciou as ações com vacinas bivalentes. Seguindo a orientação do Ministério da Saúde, as primeiras doses foram destinadas a pessoas em instituições de longa permanência e seus trabalhadores.
Neste momento, as vacinas bivalentes são aplicadas em pessoas de 60 anos ou mais, gestantes, puérperas e imunocomprometidos com 12 anos ou mais. A ampliação dos grupos contemplados ocorre gradativamente, sendo divulgadas novas ações sempre no site da prefeitura.Conforme o vacinômetro do Ministério da Saúde, Santa Maria já havia aplicado 6.134 doses até o último sábado.
Sequelas ainda são temas de pesquisas
Projeto permitirá que a colombiana Marly Fernanda (na foto) saiba se sua força muscular respiratória foi comprometida pela doença. Foto: Nathália Schneider (Diário)
Para desenvolver medicamentos ou aprimorar tratamentos, é preciso entender a forma como a Covid-19 afeta o corpo humano. A fonoaudióloga colombiana Marly Fernanda, 29 anos, recebeu o diagnóstico positivo em junho de 2022. Durante o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ela soube de um projeto em busca de voluntários para avaliar a capacidade funcional e a função muscular respiratória pós-Covid-19. Os testes começaram no final de fevereiro deste ano.
Marly Fernanda faz parte das 50 pessoas que se voluntariaram para a pesquisa da acadêmica de Fisioterapia da UFSM, Gabrielle Peres Paines, 23 anos:
– No início da pandemia, eu queria saber quais seriam as repercussões na vida de cada indivíduo após ter Covid-19.
Para participar é necessário ter mais de 18 anos e já ter positivado para Covid-19; não estar com febre; não ter dificuldades para caminhar e não praticar exercícios físicos regularmente.
Conforme Gabrielle, tratam-se de dois dias específicos, que permitem avaliar a força muscular respiratória do voluntário. Os testes são para medir a quantidade e fluxo de ar que entra e sai dos pulmões e de caminhada, além de pressões inspiratória máxima (PImax) e expiratória máxima (PEmáx).Para coletar os resultados deste projeto, Gabrielle também conta com o auxílio da acadêmica de Fisioterapia da UFSM e bolsista de Iniciação Científica, Stéfany Piccinin, 22 anos. Ao final das sessões, cada voluntário recebe o resultado das avaliações realizadas. A ação busca permitir que o participante entenda o processo e acompanhe a evolução do próprio quadro.
O projeto de pesquisa é orientado pela professora do curso de Fisioterapia da UFSM, Carine Callegaro:
– Buscamos, a partir do projeto, identificar quais fatores causam a fadiga e a falta de ar. Por alguma razão, que a ciência ainda tenta explicar, a Covid-19 ataca a musculatura respiratória de forma direta e também a esquelética. O indivíduo pode ter cansaço tanto por fraqueza muscular inspiratória quanto por um comprometimento na musculatura das pernas. Então, é importante saber se a capacidade de realizar exercícios está preservada – argumenta Carine.
Participe
O quê – Projeto de Pesquisa ‘Capacidade Funcional e Função Muscular Respiratória em indivíduos pós Covid-19
Critérios para participar – Ser maior de 18 anos e ter positivado para Covid-19; não estar com febre; não ter dificuldades para caminhar e não praticar exercícios físicos regularmente
Inscrições – Pelos telefones (55) 99206-4853 e (55) 3211-8070 ou pelo e-mail [email protected]
Todas as pessoas que participarem do projeto receberão os relatórios referentes às avaliações realizadas